terça-feira, 10 de janeiro de 2012

"Aborrecência": Hora de buscar um lugar ao sol

Jornal Exclusivo Kids, nº 35 – Dezembro 2011
 
http://www.exclusivo.com.br/KidsDigital

“Aborrecência”: hora de buscar um lugar ao sol

O comportamento do público teen é facilmente identificável. Além de estarem sempre on-line, invariavelmente estão confusos, de mal com o mundo e contra seus pais. A psicopedagoga Aline Aguiar de Carvalho (Campo Bom/RS) ressalta que, atualmente, ser teen é estar na moda, buscar todas as possibilidades e facilidades para uma vida corrida, carregada de ações e atitudes.
Para alguns existem obrigações que não condizem com a sua faixa etária, enquanto outros nunca receberam um pedido para fazer qualquer coisa, e assim, acaba-se criando sujeitos que ficam à espera dos outros e só sabem reclamar. “Ser jovem é gostar de tudo, é achar que tudo está maravilhoso, mas ao mesmo tempo é torcer o nariz para tudo, achar que nada lhe é útil. É entrar em contradição com o mundo, afinal todos estão contra ele. É ter a capacidade de mudar o centro de interesse com um piscar de olhos”, define.
Embora muitos saudosistas só enxerguem defeitos nas novas gerações, elas têm muitas virtudes. Para Aline, sua maior virtude é serem conhecedores de um vasto rol de assuntos, afinal, estão sempre conectados. “Se quiserem, são capazes de se posicionar criticamente, pois possuem informação suficiente para embasar uma conversa bem produtiva”, diz. Mas tudo isso, segundo ela, dependerá da forma como forem utilizadas essas informações. Eles podem querer mover o bairro inteiro para tentar salvar os animais de rua, como podem também querer fazer algo não tão legal apenas pelo ato de se sentir o melhor da turma. “Mostram-se bastantes influenciáveis na ação de que: se eu fizer, o que pensarão de mim? Ou: se eu não fizer, vão pensar o quê de mim?”, explica.
Diferenças
Os jovens têm hoje muitos elementos que os diferenciam dos adolescentes de antigamente. Aline coloca-se no lugar dos jovens de antigamente, lembrando que sentavam no muro das casas dos amigos com um grupo enorme, todos querendo se divertir, rir, contar piada, fazer fofoca, começar a pensar em como seria o primeiro beijo, o prato cheio de pipoca com refrigerante, criar clubes, subir em árvore, comentar sobre seus medos e angústias.
Hoje em dia, ela diz que os adolescentes têm a preocupação de estar sempre na moda, de saber o que já fizeram ou o que deixaram de fazer, com quantos saíram, a última cena picante da novela, ou do jogo que acabou de ser lançado. “Os assuntos são diferentes do passado para agora? Não acredito que sejam, porém cada um com intensidades diferentes, onde o que antes era importante, agora não tem nem graça. O que antes era interessante agora já ficou para trás”, enfatiza.
Adultos
Para muitos adultos, lidar com essa faixa etária pode ser extremamente desgastante. Porém, Aline ensina que os adultos precisam compreendê-los para que possam saber onde devem interferir. Não apenas gritar, xingar, colocar de castigo. Eles se sentirão menosprezados e, assim, irão fazer tudo o que quiserem sem se importar com o resultado. Às vezes farão pelo simples fato de mostrar que fazem mesmo estando proibidos.
“Há formas de se chegar ao adolescente, há formas de se mostrar o mundo, formas de oportunizar informações e formas de mostrar o que se fazer com elas”, fala. Mas ela ressalta que não adianta o adulto apenas cobrar dos outros se primeiramente não começar por ele mesmo. “Os adolescentes querem limites, mas para eles perceberem a importância, antes de qualquer coisa, devemos pensar em nós adultos. Estamos preparados para exigir dos outros se, muitas vezes, deixamos de fazer muito que se prega?”, questiona.

(continua a matéria com  outro especialista, no que se refere a consumistas em massa)
As características comportamentais dos jovens refletem-se no seu modo de consumir.
O especialista em marketing e consumo e sócio-diretor da Tekoare Vending e Entretenimento
Corporativo, Claudio Diogo (Curitiba/PR), define os como imediatistas, simplistas, influenciáveis ao extremo,
pois querem produtos que ‘a galera’ também consuma, e volúveis, pois conforme há mudanças da moda, acontece o efeito ‘manada’, ou seja, precisam seguir a moda do grupo a que pertencem. Quase 40% deles no Brasil já recebem mesada e gastam em três grandes grupos: roupas, guloseimas e jogos. Conquistar essa galera no ponto de venda não é nada simples, pois podem mudar de ideia em um piscar de olhos. Diogo diz que as cores e os produtos utilizados por personagens na TV são a linha de maior sucesso hoje no varejo, tanto para crianças – personagens de desenhos – como para adolescentes – personagens de novelas e seriados. Mas ele alerta que também isso pode mudar no apertar do clique do controle remoto. Ou seja, o personagem saiu de cena, os clientes desaparecem. O maior desafio, especialmente com esse público, é a fidelização. O especialista diz que se deve levar em conta que o ciclo de vida dos produtos é muito curto hoje em dia
– nota-se que um celular tem o ciclo de vida esperado entre 2 a 5 meses. “Então, é mais fácil recriar novas marcas, modelos e produtos, todos sob o mesmo guarda-chuva. Atrair este cliente com marcas e atrativos
novos é a solução”, assegura.
Influência
Diogo salienta que o público teen consome moda sob influência da massa. “Tire uma foto da saída de uma escola ou de um show do Justin Bieber, parece uma invasão de clones, todos vestidos iguais”, brinca.
Ele lembra que o consumo pode ser influenciado já na pré-adolescência. “Nos Estados Unidos, as lojas Justice, de moda feminina, constroem o consumo teen com suas tendências de moda e acessórios. A garota que inicia o consumo de acessórios e vestuários pela Justice acaba consumindo num padrão parecido no futuro - e isso ainda não existe aqui no Brasil”, exemplifica. Para ele, no Brasil, ainda é muito incipiente o mercado teen e são poucas as pesquisas de varejo específicas a este público.
Andriy Petrenko/Fotolia.com



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